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Níquel brasileiro é vendido por US$ 500 milhões à China, mas concorrente europeu alega ter feito oferta maior."

  • Igor
  • 25 de ago.
  • 3 min de leitura

O níquel brasileiro deixou de ser apenas um ativo mineral para se tornar peça estratégica no tabuleiro da geopolítica global. A venda da operação da Anglo American, em Goiás, para a estatal chinesa MMG, por US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões), acendeu um alerta entre potências como China, Estados Unidos e União Europeia, além de provocar reações de concorrentes privados.

Segundo apuração da Folha de S. Paulo, a negociação inclui as plantas de Barro Alto e Niquelândia (GO), além de projetos em Pará e Mato Grosso, ampliando significativamente a presença chinesa em um setor vital para a produção de baterias e para a transição energética mundial.

O níquel é classificado como minério crítico, fundamental tanto para a fabricação de aço inoxidável quanto para baterias de veículos elétricos. Com a corrida global por tecnologias limpas, o controle sobre reservas estratégicas tornou-se uma prioridade entre as principais potências.

A China, que já domina o refino global de níquel, cobalto e terras raras, ainda depende de minas estrangeiras para manter sua cadeia industrial. A compra das jazidas brasileiras fortalece o domínio de Pequim, que, segundo a holandesa Corex Holding, já controla cerca de 60% da oferta global do minério.


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A Corex, empresa controlada pelo bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım, afirma ter feito uma proposta de US$ 900 milhões (R$ 4,9 bilhões) — quase o dobro da oferta chinesa — e mesmo assim perdeu a disputa. A companhia questiona a transparência do processo e apresentou denúncias tanto ao Cade, no Brasil, quanto à Comissão Europeia, em Bruxelas.

“Essa compra aumenta ainda mais a concentração de mercado e coloca em risco a segurança de suprimento da União Europeia”, afirmou Yıldırım em entrevista.

Nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump acompanha o caso com atenção. A atuação chinesa no setor mineral brasileiro é vista como parte de uma estratégia mais ampla, já observada em países como a Indonésia, onde o domínio chinês sobre minas derrubou os preços internacionais do níquel.

Na União Europeia, a transação também poderá ser alvo de investigação por riscos de concentração de mercado. No Brasil, o Cade já analisa denúncias de que a venda pode comprometer a concorrência. A Anglo American argumenta que a operação está alinhada à sua estratégia de focar em ativos de cobre, minério de ferro de alto teor e fertilizantes.

Na cidade goiana de Barro Alto, com pouco mais de 12 mil habitantes, a mudança de controle levanta esperanças e apreensões.

“A mineração tirou Barro Alto da pré-história, mas não nos colocou no futuro. Ficamos no meio do caminho. A MMG pode dar um F5 nisso”, afirmou Iran Fernandes, da associação comercial local.

A população espera que a chegada da MMG traga novos investimentos, empregos e desenvolvimento, mas também cresce o temor de que o avanço da influência chinesa reduza o espaço de empresas nacionais e aumente a dependência externa.

Com o avanço da transição energética e a corrida global pela descarbonização, o níquel brasileiro se consolida como insumo estratégico para indústrias de alta tecnologia. Da produção de veículos elétricos a sistemas de energia renovável e até equipamentos militares, a demanda por esse recurso está em alta.

Detentor de algumas das maiores reservas do mundo, o Brasil se vê no centro de uma disputa que mistura economia, diplomacia e segurança energética.

O níquel brasileiro já não é apenas uma commodity: é um ativo geopolítico, capaz de redefinir o papel do país no cenário internacional. A disputa entre China, EUA e Europa por suas jazidas mostra que, na nova ordem global, a mineração é muito mais do que economia — ela é poder estratégico.

 
 
 

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